Radiotraçador ou radiofármaco? Quais são as diferenças?

Quem não tem muita familiaridade com o universo da Medicina Nuclear pode se ver em dúvida diante de algumas palavras comuns à especialidade. Possivelmente a confusão mais recorrente é entre os termos “radiotraçador” e “radiofármaco”. Eles são sinônimos? Podemos entendê-los como a mesma coisa? Se não, em que diferem os radiotraçadores e os radiofármacos?

Não há consenso total sobre como devem ser usados os dois termos. Mas há um amplo entendimento comum do significado de cada um deles.

Genericamente podemos dizer que todo radiotraçador é um radiofármaco. Porque por fármaco entende-se toda substância com estrutura química definida que possui efeito ou ação conhecidos no organismo, geralmente comprovada por meio de estudos pré-clínicos ou clínicos. Em termos de suas funções, os fármacos podem ser categorizados como preventivos, profiláticos, curativos ou diagnósticos.

Isso quer dizer, portanto, que um radiotraçador teria função diagnóstica e um radiofármaco teria função curativa? Não é exatamente por aí… Siga comigo neste texto que vou detalhar as diferenças.

A característica do radionuclídeo importa na categorização dos radiofármacos

Quem leu meu texto sobre radiofármacos vai se lembrar que o radionuclídeo que compõe o radiofármaco pode emitir radiação alfa, beta ou gama. É o tipo de radiação e a concentração do radiofármaco que vai definir se ele tem função diagnóstica, curativa ou ambas – que chamamos de teragnóstica.

A partir do tipo de radiação, a categorização dos radiofármacos é:

  • Gama → Tem apenas função diagnóstica
  • Beta → Tem função teragnóstica (diagnóstica e curativa) a depender da concentração. Em pequenas quantidades só tem função diagnóstica e em concentrações maiores, função teragnóstica.
  • Alfa → Tem apenas função curativa

Dependendo da caracterização do quadro de um paciente, é usado mais de um radiofármaco em uma sessão. Se um determinado caso já aponta para a necessidade de uso de um radiofármaco que emite radiação alfa mas ainda pode-se gerar imagens diagnósticas do paciente, é acrescentado outro radiofármaco na sessão, sendo que esse último tem função diagnóstica, ou seja, emite radiação beta ou gama. Esse segundo radiofármaco é chamado de “radiofármaco-par” e, nesse caso, a sessão tem função teragnóstica.

 

Radiotraçador: como ele pode ser caracterizado?

O radiofármaco que possui apenas função diagnóstica muitas vezes é chamado de radiotraçador ou radiomarcador. Mas como já dissemos, o radiofármaco pode ter função diagnóstica e curativa a depender da quantidade – e esta não muda o nome ou o tipo do radiofármaco.

Um dos exemplos mais clássicos é o  iodo-131. Em pequenas quantidades ele tem função apenas diagnóstica. Em quantidade maior ele pode ter função teragnóstica. Contudo, sua maior concentração não altera a composição do radiofármaco em si, ele continua sendo o mesmo medicamento. Em outras palavras, não podemos afirmar que o iodo-131 apenas “marca” ou “traça” o órgão ou tecido a ser analisado porque, dependendo da quantidade, ele vai também exercer função curativa.

Dessa forma, podemos afirmar que a caracterização de um radiofármaco não depende única e exclusivamente do medicamento em si, mas da função que ele vai exercer em determinada sessão.

Também é importante deixar claro que os radiofármacos que possuem função teragnóstica vão diagnosticar e tratar o mesmo órgão ou tecido. Voltando ao exemplo do iodo-131: em grandes quantidades ele tem função curativa e possibilita a geração de imagens do órgão ou tecido que está sendo tratado.

Entretanto, é muito comum usarmos, numa mesma sessão, um radiofármaco para tratar um órgão ou tecido enquanto investigamos outro. Pacientes com câncer cujos diagnósticos apontam para casos de metástase podem enquadrar-se nessas situações. Em casos como esses não é raro administrarmos um radiofármaco que emitirá radiação alfa com outro radiofármaco-par que emitirá radiação beta ou gama – este último, funcionando como um radiotraçador na definição mais clássica do termo.

Sessões como essas são as teragnósticas mais comuns, diferenciando sobremaneira a Medicina Nuclear de qualquer outra especialidade médica. Baseados numa enorme quantidade de informações sobre o quadro do paciente, sobre as características radiativas dos materiais e sobre como eles interagem nos radiofármacos, conseguimos levantar informações sobre o comportamento de um órgão ou tecido enquanto ele recebe um medicamento. Cenários como esses possibilitam que sejamos mais precisos no monitoramento de pacientes diante de terapias selecionadas e no reestadiamento de um paciente já tratado, para verificar a recidiva do câncer.

Pacientes e colegas médicos que quiserem recomendações sobre um tipo específico de radiotraçador, especificidades sobre radiofármacos ou como as abordagens teragnósticas estão evoluindo, fiquem à vontade para entrar em contato, terei muito prazer em explicar! Para os que estão na região de Porto Alegre, podemos agendar uma visita ao Inscer para conversar!