Alzheimer: relato de um caso clínico
Já comentei diversas vezes que, tanto no diagnóstico quanto no tratamento, a Medicina Nuclear atua majoritariamente em pacientes com câncer. Mas no texto sobre o PET-CT, comentei que o exame também tem aplicações na análise neurológica. É sobre uma possível aplicação que falo no texto de hoje: os casos de dois pacientes com Doença de Alzheimer no qual fizemos um PET-CT usando o PIB(11C), o Pittsburgh Compound B(11C) – traduzindo para o português, o Composto B de Pittsburgh.
Para que o entendimento do caso fique mais claro, é importante recuperar algumas informações sobre a Doença de Alzheimer. Ela é um transtorno neurodegenerativo progressivo de causa desconhecida; entretanto, acredita-se que a predisposição genética é o fator preponderante para o aparecimento da patologia.
A Doença de Alzheimer instala-se a partir do momento que o Sistema Nervoso Central não consegue mais processar devidamente certas proteínas. Elas começam a manifestar-se em fragmentos e com algum nível de toxicidade, dentro dos neurônios ou nos espaços entre eles. É essa toxicidade que vai degenerando o tecido nervoso de algumas partes do cérebro como o hipocampo – que controla a memória – e o córtex cerebral, fundamental para linguagem, pensamento abstrato, raciocínio e reconhecimento de estímulos sensoriais.
A principal suspeita de degeneração do tecido cerebral é uma proteína chamada beta-amilóide, que é um fragmento de uma proteína maior, encontrada na membrana gordurosa que envolve as células nervosas. O acúmulo de beta-amiloides nas ramificações dos neurônios bloqueiam a sinalização celular. Assim, o cérebro reduz a quantidade de sinapses.
Conforme a Doença de Alzheimer avança, os sinais começam a se manifestar no paciente. Primeiro ocorrem episódios de perda de memória de acontecimentos recentes. Em seguida o paciente relata dificuldades de acompanhar conversas ou pensamentos complexos, o que começa a gerar uma alteração na personalidade.
Em estágios mais avançados, o paciente vai apresentar dificuldade para falar e realizar tarefas simples. Ele progressivamente vai diminuindo sua capacidade motora até ficar restrito ao leito.
Doença de Alzheimer: quais métodos utilizamos e o qual era nossa busca
O protocolo tradicional para diagnóstico da Doença de Alzheimer começa com análise clínica, baseada na história progressiva do paciente. Essa abordagem é viável para casos moderados a graves, os pacientes que já se encontram no estágio três ou quatro da doença.
Os exames com o PET-CT são importantes no diagnóstico, especialmente por ajudar a identificar etapas mais precoces da patologia. E no caso da Doença de Alzheimer, os melhores resultados são obtidos quando o tratamento é iniciado nas fases mais precoces.
Para a análise de pacientes com suspeita de Doença de Alzheimer, normalmente são utilizados dois radiotraçadores: o 18F-Fluordeoxiglicose, conhecido pela sua sigla 18F-FDG e o já citado 11C-PIB. Este se relaciona diretamente com a concentração da beta-amiloide, ajudando assim a caracterizar a Doença de Alzheimer.
Contudo, há um obstáculo no uso do 11C-PIB. Assim como outros radiofármacos que usam o C11, sua meia-vida é considerada curta. Eles perdem atividade em 20 minutos. Dessa forma, era necessário que a aplicação do radiotraçador acontecesse bem próximo ao cíclotron que o produz. O que foi possível no Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul.
Casos: relato do uso do PET-CT
Os pacientes que acompanhei eram septuagenários: uma do sexo feminino de 75 anos e outro do sexo masculino de 70 anos. Ambos relataram dificuldade de memória recente, falta de disposição para envolver-se em atividades sociais, prejuízo de memória verbal imediata e na memória visual para detalhes complexos.
Submetemos ambos ao PET-CT com os dois radiotraçadores já citados: o 18F-FDG e o 11C-PIB. No paciente do sexo feminino, não foi identificada retenção significativa do 11C-PIB. Entretanto, no paciente do sexo masculino, a retenção significativa do 11C-PIB foi positiva, confirmando o diagnóstico.
O exame foi fundamental para confirmar o diagnóstico porque o ligante do 11C-PIB tem alta afinidade com o ligante fibrilar beta-amiloide. Levei em consideração quase 20 estudos que utilizaram 11C-PIB em diferentes populações. Eles mostram que a precisão da imagem de placas de beta-amiloide, gerada pelo PET-CT com o uso de 11C-PIB, apresentam uma especificidade de 85%, com um intervalo de confiança de 95%.
O acompanhamento desses dois pacientes mostrou, mais uma vez, o valor do PET-CT no diagnóstico precoce da Doença de Alzheimer. Se você quiser saber em maior profundidade como o PET-CT e outros diagnósticos da Medicina Nuclear podem ajudar pacientes com doenças degenerativas do Sistema Nervoso Central, entre em contato! Terei muito prazer em explicar!