Linfoma de Hodgkin: relato de um caso clínico
Quem acompanha o blog ou os meus posts no Instagram e LinkedIn talvez se lembre de quando falei sobre linfomas. Neste texto vou apresentar um caso clínico de um linfoma de Hodgkin, um tipo de quadro no qual médicos nucleares atuam frequentemente.
Antes de tratar especificamente do caso, acho válido apresentar novamente algumas informações sobre os linfomas e, especificamente, sobre o de Hodgkin.
Linfomas são um tipo de câncer que se manifesta no sistema linfático, em qualquer uma de suas estruturas: nos vasos linfáticos, nos órgãos linfóides primários e secundários ou nos linfonodos. Eles correspondem a aproximadamente 5% dos casos de câncer no mundo e,no Brasil, são o oitavo tipo mais prevalente, com quase 15 mil novos casos todos os anos.
O linfoma de Hodgkin caracteriza-se por espalhar-se de forma ordenada entre grupos de linfonodos por meio dos vasos linfáticos. Outro elemento bem característico desse tipo de linfoma é a presença de células grandes, conhecidas como Reed-Sternberg. Em 95% dos casos do linfoma de Hodgkin, as células Reed-Sternberg se apresentam grandes, com muitos núcleos ou dois, que se parecem com olhos de coruja. Nos outros 5% dos casos, encontra-se uma variação das células Reed-Sternberg, que são chamadas de células pipoca.
Quais métodos utilizamos e o qual era nossa busca
O processo tradicional de diagnóstico de linfomas passa por:
- Hemogramas → para avaliar o risco da existência de linfomas
- Biópsia → para fazer a classificação exata do tipo de linfoma – se de Hodgkin ou não-Hodgkin e qual subtipo
- Cintilografia e PET-CT → para determinar a extensão inicial da doença, se ela está evoluindo ou regredindo
Quem leu meu texto sobre PET-CT vai se lembrar que um dos principais objetivos do exame é auxiliar no planejamento terapêutico, uma vez que ele permite analisar a dimensão e localização do câncer e indicar a abordagem mais adequada. Em quadros de linfomas, recomenda-se o PET-CT com o radiofármaco 18F-FDG, a fluordesoxiglicose marcada com flúor-18.
O 18-FDG é um radiotraçador frequentemente utilizado em exames de pacientes com câncer. Isso porque as células dos tumores apresentam alto metabolismo glicolítico, se comparados aos tecidos normais. A diferença no consumo de glicose favorece a detecção da radiação emitida pelo decaimento radioativo do radiofármaco.
No caso que irei detalhar a seguir, realizei o PET-CT no paciente tanto para definir o estadiamento inicial da doença quanto para verificar a resposta ao tratamento.
Caso clínico do Linfoma de Hodgkin: uso doPET-CT
O paciente que acompanhei tinha 29 anos e era do sexo masculino. Vale lembrar que o linfoma de Hodgkin é mais prevalente em homens entre 15 e 39 anos ou com mais de 75 anos. Em outras palavras, o paciente possuía características que o colocavam como um indivíduo com maior propensão de desenvolver a doença.
Como mencionei neste texto, o paciente passou pelo PET-CT com o radiofármaco 18F-FDG para que pudéssemos definir a extensão do câncer. Observamos captação anômala do radiotraçador nas seguintes regiões do corpo:
- Cabeça e pescoço
- Linfonodos cervicais níveis II, III, IV e V bilateralmente
- Tórax
- Linfonodos paratraqueais
- Linfonodos em janela aortopulmonar
- Linfonodos em cadeia pré vascular
- Linfonodos em cadeia mamária interna
A conclusão do primeiro PET-CT realizado nos deu evidências de que o linfoma estava comprometendo cadeias de linfonodos do pescoço e do tórax, com proliferação localizada acima do mediastino. A concentração do 18F-FDG era moderada, sendo acima do fígado, o órgão de referência.
O paciente foi submetido à quimioterapia e seis meses depois do primeiro PET-CT, realizei o segundo, para avaliar a resposta ao tratamento. No segundo exame, não foi observada a captação fisiológica do radiotraçador 18F-FDG. Em outras palavras, o PET-CT indicou resposta metabólica positiva completa em relação ao tratamento instituído, como mostram as imagens abaixo. Na escala de Lugano, o paciente foi então classificado na categoria 1, sem qualquer lesão ao 18F-FDG.
Os dois PET-CT que realizei cumpriram a função de determinar a extensão da doença e avaliar a resposta do paciente à quimioterapia.
O linfoma de Hodgkin é um tipo de câncer que tem cura. Pacientes que recebem o diagnóstico precoce aumentam de 50% para 75% as chances de remissão total. Portanto, se você está com suspeita da doença ou é um médico que acompanha um paciente que já tenha passado pelas etapas de hemograma e biópsia e quer saber mais sobre os exames da Medicina Nuclear, entre em contato! Terei o maior prazer em responder todas as perguntas.
Para quem está em Porto Alegre e região, podemos agendar uma visita ao InsCer, para conversar melhor sobre o procedimento e esclarecer as dúvidas que você tiver.