Radiofármacos

Quem leu o texto sobre Medicina Nuclear já sabe que ela é a especialidade médica que se dedica ao estudo e uso de materiais radioativos para diagnosticar e tratar pacientes. Na maioria das vezes, esses materiais radioativos são os radiofármacos: substâncias compostas por uma molécula que possui afinidade biológica a um órgão ou tecido com um radioisótopo. Este libera, dentro do nosso corpo, radiação eletromagnética no processo de decaimento radioativo.

No diagnóstico de pacientes, como explicamos no texto sobre diagnósticos na Medicina Nuclear, para a realização dos exames de imagem, são utilizados radiofármacos conhecidos como radiotraçadores. Estes são formados pela união de um radioisótopo e uma molécula fisiológica. Enquanto o radioisótopo emite, dentro do corpo do paciente, uma onda eletromagnética captável pelos equipamentos de imagem, a molécula fisiológica funciona como o traçador. Ela executa uma função semelhante à do órgão ou tecido a ser examinado.

Os radiotraçadores, no seu decaimento radioativo, em sua maioria emitem radiação gama, que é captada pelos equipamentos utilizados em alguns exames de imagem como a cintilografia. Já os radiofármacos usados em tratamentos emitem radiação alfa ou beta. Ambas são capazes de destruir tecidos seletivamente.

Dra. Cristina Matushita | Médica Nuclear

Características e composição

Os radiofármacos são compostos radioativos que não possuem ação farmacológica. Em outras palavras, eles não atuam acelerando ou retardando a taxa das funções biológicas do nosso corpo.

Explicamos aqui que o radiofármaco é composto por um radionuclídeo, responsável pela emissão da radiação, que é ligado quimicamente a uma molécula não-radioativa que apresenta afinidade biológica por um determinado órgão ou sistema. As características do radionuclídeo definem o uso do medicamento enquanto suas características físico-químicas determinam sua farmacocinética.

Conforme já explicamos, a seleção do radionuclídeo define se a radiação emitida será alfa, beta ou gama. Essa característica, por si só, já orienta a finalidade do radiofármaco – se diagnóstica ou terapêutica. Para esta, são utilizados radionuclídeos que emitem radiação alfa ou beta. Já para fins diagnósticos, a radiação eletromagnética em sua maioria é gama, sendo que em alguns casos são selecionados radioisótopos que emitem radiação beta.

O que define a seleção do radiofármaco a ser usado no diagnóstico é o tipo de exame pelo qual o paciente passará. Os equipamentos que possuem câmara gama – que são usados em cintilografias – captam a radiação gama e beta. Já o PET-CT capta radiação beta (pósitrons ou anti-elétron).

 

Radiofármacos: funções e exemplos

Explicamos neste texto que a farmacocinética do medicamento – ou seja, sua fixação no órgão ou tecido, sua metabolização e eliminação no organismo – é definida pela característica físico-química do radiofármaco.

A fixação no órgão ou tecido se dá graças ao processo conhecido como sinalização celular. Em organismos pluricelulares complexos, para que cada tipo de célula cumpra sua função cooperando com as outras, elas precisam se “comunicar”. Essa comunicação se dá graças às moléculas-sinal, excretadas ou expostas na superfície de cada célula e reconhecidas por receptores de outras células.

Em um radiofármaco, a molécula fisiológica que o compõe é a molécula-sinal que vai se comunicar com o tecido ou órgão no qual há a incidência do câncer.

A metabolização de um radiofármaco, ou seja, a transformação físico-química que nosso organismo exercerá no medicamento tornando-o passível de eliminação, ocorre após seu decaimento radioativo. Geralmente os radiofármacos, como a maioria dos medicamentos, são excretados na urina após a metabolização.

Contudo, antes de ser eliminado, o radiofármaco cumpre sua função que é a de, por meio de decaimento radioativo, gerar radiação que provoca danos definitivos no DNA da célula cancerígena. E o tempo que esse decaimento consome para emitir a radiação a ponto do radionuclídeo se estabilizar e parar de emitir radiação é a meia-vida.

Essa é uma medida fundamental para a produção de um radiofármaco. Sua meia-vida não pode ser muito longa a ponto do medicamento emitir radiação desnecessária, que prejudique estruturas saudáveis do paciente, nem curto o suficiente para que o radiofármaco não alcance a célula cancerígena.

Há diversos radiofármacos que já são usados em quantidade significativa em todo o mundo. No Brasil, o mais utilizado para diagnóstico é o tecnécio 99 e para tratamento é o iodo 131.

O tecnécio 99 emite radiação gama, tem meia-vida de pouco mais de 6 horas e sua eliminação ocorre principalmente por meio dos rins e da urina. Por emitir radiação gama, o tecnécio 99 é bastante utilizado em cintilografias.

Já o iodo 131 é muito utilizado em tratamentos de câncer na tireóide. Ele emite radiação gama e beta e seu tempo de vida é de pouco mais de 8h. A eliminação também acontece principalmente pela urina.

Os radiofármacos são medicamentos seguros e que estão em acelerado desenvolvimento há mais de 70 anos. Atualmente no Brasil estão autorizados diversos medicamentos desse tipo, com alto índice de sucesso no diagnóstico e tratamento de pacientes com câncer.

Se quer saber mais sobre como os radiofármacos podem te ajudar, entre em contato com uma médica nuclear. Todos os profissionais dessa especialidade terão prazer em auxiliar paciente e médico responsável na busca por encontrar o diagnóstico e tratamento mais adequado para cada situação.